A noite sempre me pareceu digna de admiração. Na natureza,
aprecio a serenidade da Lua e a imensidão das estrelas, e em meio urbano, gosto do modo como o manto noturno esconde as sujeiras dos becos e mascara a podridão das
pessoas. É na noite também que os medos vêm à tona, testando a lucidez dos
seres. Seja sob o teto estelar ou na companhia dos postes, a verdade é que perambular enquanto o Sol ilumina outros cantos do mundo é uma porta aberta
para a imaginação. E cá entre nós, imaginar é o que existe de mais subjetivo
nesta vida.
Subjetividades à parte, o fato é que eu perambulava por aí, grata por estar sob a tutela da Lua, ainda que acompanhada pelos postes. Na calçada oposta à minha, uma pseudo matilha de cães causava alvoroço. Pseudo, sim; considerando o fato de que era composta por membros independentes e individualistas, unidos apenas por um interesse em comum: uma cadela no cio. Triste é encontrar situações semelhantes em meio à sociedade humana. A diferença, é que os cães não são hipócritas. Assumem seus objetivos, e brigam por ele, se necessário for.
Refletindo sobre estas e outras coisas, olhei de relance para um antigo prédio, e vi um grande e negro pássaro plainando rente à bela arquitetura. Intrigada, isolei os cães e a hipocrisia dos homens para um plano secundário de minha mente, e comecei a observá-lo. Ele voava firme, constante e bailava com o vento. Deu um passo em falso na sua bela valsa, e rodopiou até uma das inúmeras janelas iluminadas do edifício. Subitamente, meu pássaro desapareceu. A dança esvoaçante, a firmeza de seu voo e a negritude de suas penas foram consumidas pelas luzes amareladas que tamborilavam através das cortinas, dando lugar a uma sacola plástica branca e rasgada, tendo como única serventia sujar os ares. O mais irreciclável dos plásticos vagando por aí, como tantos outros, frutos da “evolução”. A noite sabe mesmo ser traiçoeira! Abusa daqueles que imaginam em excesso. Em segundos, o belo é feio, e o feio não tão feio assim. Nesse caso, especificamente, eu me senti ultrajada por tamanha decepção! Mas por outro lado...se todos os plásticos fossem pássaros, imaginar seria desnecessário.
Subjetividades à parte, o fato é que eu perambulava por aí, grata por estar sob a tutela da Lua, ainda que acompanhada pelos postes. Na calçada oposta à minha, uma pseudo matilha de cães causava alvoroço. Pseudo, sim; considerando o fato de que era composta por membros independentes e individualistas, unidos apenas por um interesse em comum: uma cadela no cio. Triste é encontrar situações semelhantes em meio à sociedade humana. A diferença, é que os cães não são hipócritas. Assumem seus objetivos, e brigam por ele, se necessário for.
Refletindo sobre estas e outras coisas, olhei de relance para um antigo prédio, e vi um grande e negro pássaro plainando rente à bela arquitetura. Intrigada, isolei os cães e a hipocrisia dos homens para um plano secundário de minha mente, e comecei a observá-lo. Ele voava firme, constante e bailava com o vento. Deu um passo em falso na sua bela valsa, e rodopiou até uma das inúmeras janelas iluminadas do edifício. Subitamente, meu pássaro desapareceu. A dança esvoaçante, a firmeza de seu voo e a negritude de suas penas foram consumidas pelas luzes amareladas que tamborilavam através das cortinas, dando lugar a uma sacola plástica branca e rasgada, tendo como única serventia sujar os ares. O mais irreciclável dos plásticos vagando por aí, como tantos outros, frutos da “evolução”. A noite sabe mesmo ser traiçoeira! Abusa daqueles que imaginam em excesso. Em segundos, o belo é feio, e o feio não tão feio assim. Nesse caso, especificamente, eu me senti ultrajada por tamanha decepção! Mas por outro lado...se todos os plásticos fossem pássaros, imaginar seria desnecessário.