segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Alimentos da alma.


Para nós, eternos amantes-escravos das palavras, o silêncio é um martírio. Quando as bocas  calam e os ouvidos dormem, a mente anseia por melodias desconhecidas, formadas pela infinidade de tudo o que absorvemos nesse "mundo vasto,mundo". Desses anseios, surge a curiosidade. Da curiosidade, surge a necessidade de ler qualquer coisa interessante que esteja ao seu alcance. Foi assim que li sobre os dervixes rodopiantes. Deles pouco sei. Mas suas antigas palavras, carregam sabedoria ainda mais antiga, preciosas o suficiente para alimentar nossas mentes, e almas, no martírio silencioso.


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Foto: arquivo pessoal



Eu sou Tu.

Sou as partículas de pó à luz do sol,
sou o círculo solar.
Ao pó digo: "não te movas",
e ao sol: "segue girando".

Sou a névoa da manhã
e a brisa da tarde.
Sou o vento da copa das árvores
e as ondas contra o penhasco.

Sou o mastro, o leme, o timoneiro e a quilha
e o recife de coral em que naufragam as embarcações.
Sou a árvore em cujo galho tagarela o papagaio,
sou silêncio e pensamento, e também todas as vozes.

Sou o ar pleno que faz surgir a música da flauta, 
a centelha da pedra, o brilho do metal.
Sou a vela acesa e a mariposa
girando louca ao seu redor.
Sou a rosa e o rouxinol
perdido em sua fragrância.

Sou todas as ordens de seres,
a galáxia girante,
a inteligência imutável,
o ímpeto e a deserção.
Sou o que é
e o que não é.

Tu, que conheces Jalal-ud-Din
Tu, o Um em tudo,
diz quem sou.
Diz: eu sou
Tu.

Divan de Shams de Tabriz - Jalal ud-Din Rumi