domingo, 16 de junho de 2013

Afasta de mim esse cálice.


Eu contesto. Eu discordo. EU PROTESTO.
Fatos perturbadores - ao ego, à alma, à intelectualidade e à consciência - espalham-se por aí . Infiltram-se pelas imagens, pelas palavras, pelas venezianas. Atravessam os olhos vendados com ricos pedaços de cetim e penetram os ouvidos vedados daqueles que são cegos e surdos por opção.

O grito dos que nunca falaram, agora ecoa, pelo direito de gritar.
A humanidade, no sentido qualitativo da palavra, se perde em meio ao gás e ao caos. O rei manda, ao lado de seus bispos e torres, e os piões atacam, esquecendo-se que também possuem faces.

Da pseudo-Democracia, só restam os destroços e a hipocrisia das bandeiras hasteadas nos gabinetes. 

Da pseudo- Liberdade, só restam os escombros e alguns frascos de vinagre.

Do Brasil, só resta o mau futebol e alguns bilhões solidificados em estádios.
Não são 20 centavos. Não são atos vândalos. Não são jovens alienados. 

É o futuro, batendo na porta do Planalto, e exigindo o direito de ter direitos.






"Vai passar

Nessa avenida um
samba popular
Cada paralelepípedo

Da velha cidade
Essa noite vai 

Se arrepiar 

Ao lembrar 
Que aqui passaram 
sambas imortais 
Que aqui sangraram pelos 
nossos pés 
Que aqui sambaram 
nossos ancestrais 

Num tempo
Página infeliz da nossa
história
Passagem desbotada na 
memória 
Das nossas novas 
gerações 
Dormia 
A nossa pátria mãe tão 
distraída 
Sem perceber que era 
subtraída 
Em tenebrosas 
transações 

Seus filhos
Erravam cegos pelo
continente
Levavam pedras feito
penitentes 
Erguendo estranhas
catedrais 
E um dia, afinal 
Tinham direito a uma 
alegria fugaz 
Uma ofegante epidemia 
Que se chamava carnaval 
O carnaval, o carnaval 
(Vai passar) 

Palmas pra ala dos
barões famintos
O bloco dos napoleões
retintos
E os pigmeus do bulevar 
Meu Deus, vem olhar 
Vem ver de perto uma 
cidade a cantar 
A evolução da liberdade 
Até o dia clarear 

Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral vai passar 
Ai, que vida boa, olerê 
Ai, que vida boa, olará 
O estandarte do sanatório 
geral 
Vai passar"

Chico Buarque