Eu contesto. Eu discordo. EU PROTESTO.
Fatos perturbadores - ao ego, à alma, à intelectualidade e à consciência - espalham-se por aí . Infiltram-se pelas imagens, pelas palavras, pelas venezianas. Atravessam os olhos vendados com ricos pedaços de cetim e penetram os ouvidos vedados daqueles que são cegos e surdos por opção.
O grito dos que nunca falaram, agora ecoa, pelo direito de gritar.
A humanidade, no sentido qualitativo da palavra, se perde em meio ao gás e ao caos. O rei manda, ao lado de seus bispos e torres, e os piões atacam, esquecendo-se que também possuem faces.
Da pseudo-Democracia, só restam os destroços e a hipocrisia das bandeiras hasteadas nos gabinetes.
Da pseudo- Liberdade, só restam os escombros e alguns frascos de vinagre.
Do Brasil, só resta o mau futebol e alguns bilhões solidificados em estádios.
Não são 20 centavos. Não são atos vândalos. Não são jovens alienados.
É o futuro, batendo na porta do Planalto, e exigindo o direito de ter direitos.
"Vai passar
Nessa avenida um
samba popular
Cada paralelepípedo
samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram
sambas imortais
Que aqui sangraram pelos
nossos pés
Que aqui sambaram
nossos ancestrais
Num tempo
Página infeliz da nossa
história
Passagem desbotada na
memória
Das nossas novas
gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão
distraída
Sem perceber que era
subtraída
Em tenebrosas
transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo
continente
Levavam pedras feito
penitentes
penitentes
Erguendo estranhas
catedrais
catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma
alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
Palmas pra ala dos
barões famintos
O bloco dos napoleões
retintos
E os pigmeus do bulevar
retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma
cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral
Vai passar"
Chico Buarque