quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Do branco e azul dos ladrilhos.

Banheiros. Não é lá um tema muito fácil  de se fazer prosas. A verdade é que há um certo asco em relação a este cômodo. As pessoas escrevem todo o tempo sobre quartos aconchegantes, com pesados edredons e janelas laterais. Dissertam sobre a importância das cozinhas, com seus aromas e azulejos. Inspiram-se nos jardins desordenados, com flores do campo e gotas de orvalho. No entanto, raramente (perdoem-me o trocadilho) perdem seu tempo e suas palavras discorrendo sobre banheiros. Admito que ligadas ao tema em questão, existem situações não muito poéticas...mas até elas podem ser proseadas, pelos praticantes da escatologia literária!
O fato é que o branco e azul dos ladrilhos, me é, de certa forma, agradável. Deve existir por este mundo de concreto,milhares de banheiros com ladrilhos brancos e azuis. Pequeninos ou suntuosos, rispidamente limpos ou inundados de espumas por uma banheira travessa, explorando a infinita criatividade arquitetônica ou repletos da simplicidade retangular padronizada. Mas nenhum destes compara-se ao meu toalete inspirador. Ele não é suntuoso, mas não é pequenino. O branco e o azul estão por toda parte: na toalha de rosto, na lamparina, no cabideiro e, é claro, nos ladrilhos. Banhar-se em meio a este aconchego bicolor é uma das delícias da vida. A água que cai do chuveiro, de tão cristalina e livre dos venenos presentes nos encanamentos urbanos, lava a alma! E enquanto se tem a alma lavada tudo parece mais fácil de se observar (e de se absorver). Encostados a um canto, caracóis, peixes e barquinhos de brinquedo repousam, saudosos de quando eram requisitados para navegações piratas. Cosméticos variados estão sobre a bancada da pia, e acima desta, um pequeno espelho mexicano está fixado, para que a gente possa se olhar nos olhos às vezes. Na banheira, peixes de mosaico enamoram-se, eternizados. Basta erguer o olhar, deixando os peixes em seu séssil romance, para se deparar com a janela, que é o que mais me encanta. É uma janela de madeira, com vidros incrustados. Do lado de fora, cresce um revolto pé de lampanas, afim de garantir a privacidade. Durante o dia, a luz inunda o aposento, e os ladrilhos parecem ainda mais límpidos e claros. Ao fim da tarde, podemos nos banhar assistindo ao pôr-do-sol, enquanto os últimos raios solares atingem a banheira em cheio, causando arco-íris na água corrente. À noite, a janela é fechada, para a não invasão da fauna silvestre. Entretanto, os grandes vidros permitem a visão das estrelas, e um vislumbre da Lua. Nessas noites, apagar as lâmpadas e convidar o luar para entrar, desliga-me do mundo por alguns instantes. Perco-me no azul e branco enluarado, agradecendo ao Universo pela oportunidade de desfrutá-lo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário